Já não basta ter "crescido" discriminando a mim mesma, ainda tenho que aceitar quando enchem a boca para falar que não são preconceituosos. Basta uma festa em família ou qualquer oportunidade de estar no mesmo lugar público, prar me tratar como se fosse uma prostituta, doente... PRECONCEITUOSOS SIM!!
Desde muito nova olhava para as meninas diferente. Namorei muitooooos meninos, me apaixonei por eles, sim! Mas quando se tratava de meninas minhas cabeça sempre agia de modo estranho, se posso dizer assim!
Quando juntavam as "priminhas", "amiguinhas", a brincadeira de casinha sempre me levava ao papel do pai e nessas horas, não querendo ser vulgar ou explícita, já brincávamos com nossa sexualidade e prazer, sem entender de fato o ocorrido, só sabíamos que era "bom"; hoje prosso tranquilamente trocar essa palavra por "prazeroso".
Trocávamos beijos, abraços, palavras, e "sarros" (porque não?), sem nenhuma pretenção ou rótulo. Usávamos o pouco que viamos nos filmes, novelas, seriados ou ouvíamos falar para nossa brincadeira. Mas, também era sabido que o que fazíamos era "feio/proibido", por isso era tudo às escondidas, nos guarda-roupas, à noite... sempre revesando, enquanto uma vigiava o possível adulto que pudesse aparecer. Olhe bem, isso de forma nenhuma nos fez mais ou menos "lésbicas", pelo contrário, de todas as envolvidas, somente eu tenho essa opção. E também é certo que este não foi o motivo da minha opção. Sempre que me sentia "tentada" a pensar em algo relacionado a prazer, me pegava a imaginar duas mulheres juntas, de forma muito natural; até começar a "crescer" e ouvir das minhas tias: "vc ta parecendo sapatão", "vai trocar de roupa, tá parecendo menino" e até "fulano é sapatão, não ande com ela".
Bem... assim foi incutido em mim, uma hipocrisia, medo e vergonha que me acompnharam muitos muitos e muitos anos. Era pecado, errado, feio, crime, vergonha, nojento... e outros adjetivos mais. Tudo foi gravado em mim...
Passou o tempo, meus desejos, tesões, nunca me deixaram; e com uns 10 anos, me pegava "roçando" em almofadas sonhando que fosse uma mulher... até o dia que minha avó de criação, me pegou fazendo isso e disse que não podia porque eu ficaria doente. UAU!!! Foi a gota!!
Tratei então de tentar travar qualquer "ato sexual" com almofadas, amiguinhas, primas, porque isso me faria ficar doente, mesmo que em minha cabeça o desejo fosse uma constante.
Mais ou menos por aí, um tempinho depois, como "filha mais velha", ficava com o dever de entregar as fitas cassete na locadora. Um tesouro!!! Meu pai chegava a pegar 3 e às vezes 5 fitas pornôs. Quando então chegava da escola, sentava em frente a tv e NÃO via as fitas, apenas passava até alguma parte onde tivessem duas mulheres. O que me alucinava era o rosto das mulheres, suas expressões de prazer, de nenhuma forma o ato sexual em si, nem os homens... mas A MULHER tendo prazer. Ei, custei pra entender isso! Depois disso, rebobinava as fitas e ia toda sorridente entregá-las.
Mas vamos lá, não é sobre minha história que vim escrever, e sim sobre a porcaria do preconceito que dizem não ter e as atitudes que demonstram sua existência. A contradição do que se diz com o que se sente e faz! Outro dia prometo contar sobre a minha saga!
Lembro-me então de ouvir alguém falar sobre uma tia "sapatão": "vai mudar essa roupa tá parecendo sua tia fulana" Pensava comigo: o que que tem de mais?... E caí na asneira de perguntar, foi quando ouvi uma das respostas que mais me marcou: "ela é, mas tem dinheiro, ninguém paga as contas dela, então pode ser o que ela quiser"
AFF!!
Pense comigo... se você se banca pode ser o que quiser, caso contrário, tem que ser o que os outros querem ou o que acham certo que seja... Isso é muito louco!
Por isso vejo tanta gente enlouquecer, se prostituir, fugir de casa, porque se vêem presas entre o que todo mundo diz ser o "certo", entre o que a sociedade julga ser "normal" e o que são na verdade, sua singularidade.
Termino por dizer que o mundo nunca vai mudar, enquanto continuarmos passando a mão na cabeça de quem tem "pouco preconceito", porque não é diferente o que espanca um homosexual, de uma pessoa que tem nojo e trata com inferença; ambos magoam e ferem a moral, o ego. Evitarmos atitudes, continuarmos marginalizados por sermos "diferentes" do que se vê toda hora na rua, não vai mudar o que somos!! Demos então espaço a diversidade!!!
Nenhum homosexual quer ser diferente, só queremos ser normais e respeitados como tal.
Nem tudo na vida precisa ser explicado!!
Não faça das nossas crianças de hoje os preconceituosos e hipócritas do amanhã, porque com a evolução da vida, eles podem ser os diferentes e sofrerem por esses conceitos retrógrados.
E outra coisa!
Minha namorada, não é minha amiga, nem prima. É minha namorada, soa estranho no começo, mas depois você acustuma, tenho certeza! É a ordem natural da evolução!
Como li esses dias, estranho não é ser gay, isso existe desde que o mundo é mundo, estranho é ser preconceituoso, porque nem Jesus, que deve ser tomado como exemplo, não tinha vergonha ou discriminava ninguém! Se é pra seguir exemplos, siga o do Maior!
Chega de hiprocrisia!!!!!
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